segunda-feira, 8 de março de 2010

2009 - O Vento


Um ano tão bom tinha há pouco virado passado. Um passado ligeiro. Aquelas seriam as minhas últimas férias de verão, pelo menos dentro da minha vida escolar.  Logo eu estaria entrando no terceiro ano do Ensino Médio, tendo meu último primeiro dia de aula. Aliás, isso me lembra de 1999, quando entrei na 1ª série. Era uma tarde ensolarada, eu acabara de, como sempre fazíamos, almoçar na grande casa dos meus avós, onde minha mãe dava suas aulas de pintura. Aquele lugar era mágico, ao todo quatro terrenos, cercado por árvores, pássaros, vida. Depois daquele almoço caseiro, coloquei o uniforme e a mochila nas costas, esta, bem me lembro, era dos Bananas de Pijamas. Logo estaria entrando, pela primeira vez como aluno, em um dos lugares que mais marcaria a minha vida. Que tempo! Que rápido.
Parte 3.
2009 - O Vento


Sim, como um vento daqueles fortes de primavera, ou do vidro do carro aberto em um veraneio, sentíamos com mais intensidade o quão longe havíamos chegado. Era como se estivéssemos caminhando rumo ao topo do Morro do Farol sem olhar toda a grandiosidade da cidade que se formou atrás e tampouco pensando na vista magnífica do mar que estaria por vir a frente. Isso, até aquele momento. Pelo menos começávamos a ver essa cidade que falei, pois a maioria, não sabia ainda muito bem o que viria pela frente. Que decisões tomar? Quem se jogaria ao mar, voaria com um parapente, desceria de rapel?

De qualquer modo, a curto prazo, nós sabíamos: Faríamos mais vídeos para o Grêmio de Alunos e outro filme para o 2º Premio Santa Paula! Pois, em um ano tão insano, corrido, com poucas oportunidades de fazer novos vídeos, precisávamos nos segurar pelo menos à esse fio. Admirar ainda as belezas da trilha rumo ao topo. Plantar nela árvores.

Mais uma vez envolvidos com o grêmio de alunos, nos preparávamos para superar as nossas próprias barreiras e fazer um Rei & Rainha e Broto & Brotinho ainda melhores. Demos o máximo de si, pensando em cada detalhe, correndo atrás de patrocínio, criando layouts, logos, vídeos... Olha, foi um evento memorável! Até a iluminação foi ajustada da forma correta =D. Tudo estava em sincronia. Digo com sinceridade que todo o trabalho completamente voluntário dos membros mais atuantes fora recompensado, tanto com a beleza de tudo, como a reação de todos. 

Já falando dos vídeos, desde a primeira edição dos eventos, eram a maioria compostos com filmagens das provas que realizávamos antes, não decepcionaram quem havia visto os do ano anterior, ficando, em geral, mais bem trabalhados e interessantes. Aliás, os que editei alguma parte, ainda foram no Movie Maker. Foram os últimos realizados no software, pois logo uma nova era de edições iria começar. Destino: Vegas, Sony Vegas. Lembro-me da correria que realizei para fazer um dos vídeos, que mostrava a prova de caça ao tesouro que fizemos. Gravei todos os candidatos, com uma câmera apenas (como sempre), aquele corre corre. E eu atrás deles, pegando tudo quase que em plano sequência, para depois, na edição, deixar a magia dos cortes fluir e fazer parecer que haviam mais câmeras. Deixando os cortes mais rápidos, pegando partes que eram depois e colocando antes, até que tudo parecesse coeso e eletrizante. As vezes, o trabalho do editor acaba sendo parecido com o de um ilusionista, justamente nessas situações onde criamos uma nova ordem de acontecimentos que pareça a verdadeira e que, para os olhos do espectador, pode realmente ser.

Eis o tal vídeo, inspirado em seqüencias de ação:


Após esse e mais outros videos daquele evento, começávamos a preparação para o filme do prêmio de Literatura e Português. Era praticamente metade do ano. Não havia mais nada além da espera. Espera para que as aulas passassem e pela chegada do dia em que o professor anunciaria oficialmente o trabalho. 






Mas, enquanto isso não acontecia, nem nos dávamos conta daquele mesmo vento que soprava em nossa direção no início do ano. Voltávamos a olhar para a trilha, involuntariamente. Aos poucos o frio ia ficando mais forte e o inverno tomando conta. Nos reuníamos nas casas dos amigos, degustávamos um belo fondue, marshmallows ao fogo e assistíamos filmes. Do lado de fora dessa bolha mágica, o mundo ficava tenso com o H1N1, por dentro, a unica coisa que podia nos contagiar era a convivência e a alegria vinda dela.

Pouco depois nos foi dada a proposta do concurso, era uma manhã de expectativas. [Devo ressaltar que o que vem por aí é uma parte obscura dessa minha caminhada, mas que precisa ser dita, pois estarei sendo sincero comigo e com você.] Pois bem, no dia, após um comentário do nosso professor de Literatura, uma infeliz agulha penetrou a bolha mágica, contaminando-a. Naquele vento intempestivo, eu intensifiquei isso, pois, imaturo, durante boa parte dessa minha curta jornada audiovisual não soube reconhecer da maneira devida a contribuição coletiva. Jorge Furtado, por exemplo, comentou uma vez no seu blog da Casa de Cinema que não gosta muito de falar "meus filmes", pois, logicamente, há toda uma equipe por trás, muitas vezes apaixonada por aquilo também. Tristemente fui rever meus conceitos em uma jogada que colocou em risco grandiosas amizades, se alguma delas lê isto nesse momento, deve se lembrar bem o que foi. De qualquer maneira, que isto sirva de lição para mim e para outros. É preciso ser coerente e aceitar de coração o esforço conjunto, pois o mundo, por mais individualista que seja, ironicamente, ainda é feito de plural, não singular, tão verdade é isto que agora me refiro aqui à "vídeos em que participei". Bem, amigos, partilho essa experiência a título de sinceridade e também como um aviso aos que ainda se entregam ao altruísmo. Essa passagem estranha, hoje, foi completamente superada, as amizades se fortaleceram e, também, graças à ajuda delas.

De qualquer modo, voltando ao assunto, a produção do filme logo se iniciaria, ao passo de que, em meio às tensões ainda existentes, seria o veneno e a cura para isso, bem como meu processo maior de amadurecimento. Gradualmente, a magia do cinema ia nos fortalecendo. Para quem participa da produção de uma obra audiovisual, esta pode ser sempre uma enorme experiência de confraternização, aprendizado e união. O planejamento continuava durante aquelas férias estendidas (devido ao H1N1), nos aproximávamos das filmagens.

O filme, já com o roteiro definido, basearia-se em contos de Lygia Fagundes Telles, retirados do livro Antes do Baile Verde, pois a proposta dos professores era de que adaptássemos alguma obra listada nas leituras obrigatórias do vestibular da UFRGS. Seria uma obra mais fidedigna que Presente de Inverno, menos adaptada e também mais longa e densa. O nome: Vento Verde.

Vale ressaltar as sempre maravilhosas fotografias da nossa amiga Camila e o sofisticado e primoroso design visual da Elisa, presentes nas últimas duas imagens ali em cima. A produção fora ainda mais aprimorada, os planos, seqüencias, queríamos fazer bonito, como sempre. Como uma parte importante do filme se passaria na região central da metrópole, em especial a praça da Alfândega, conseguimos, com um clássico oficio da escola e em uma manhã eletrizante de caminhadas pelo centro, autorização para filmarmos no terraço do Memorial RS (onde fomos muito bem recebidos pela tranquila e simpática equipe) e até prédio mais alto de Porto Alegre - o Edifício Santa Cruz, com seus majestosos 107 metros de altura.

Meu querido avô, Dalton Nectoux, volta e meia me contava da famigerada obra desse espigão. Ele me mostrava o álbum com as fotos preto-e-branco da construção. Por ser a sede de uma das futuras grandes agências do então Banco Agrícola Mercantil, ele, que fora gerente de uma, acompanhara de perto aquele empreendimento. Meu avô também trabalhou com a área de arquitetura e decoração e, junto de minha mãe (que é artista plástica), foi um dos grandes incentivos para as minhas capacidades artísticas. 
Lá de cima fizemos uma tomadas panorâmicas muito boas. A emoção de conhecer melhor o prédio que meu avô tanto falou para mim também foi o máximo (bem emocionante, também, era olhar o vão das escadarias =D). Conseguiriamos, também, autorização para filmarmos  do Centro Administrativo de Porto Alegre, onde a mãe de nossa amiga Alexandra trabalha. Só não pudemos filmar do terraço por questões de protocolo, pois o último andar havia se tornado um dos gabinetes extra da governadora.

Quando íamos filmar na praça da alfândega, iamos todos de lotação, sosinhos. Éramos nós, a câmera e o tripé. A sensação de desbravar a metrópole com os amigos, aquela liberdade, a realização da obra audiovisual, tudo encantava. Mas, certamente, umas das imagens que mais marcou foi a do "encantador de pombas" - como o apelidamos - um senhor humilde, chamado Joel, que se ofereceu a nos ajudar em uma cena que precisávamos de uma revoada de pombas junto de um menino passando de bicicleta. É aquele tipo de pessoa que pode passar uma vez pela sua vida, mas você provavelmente terá uma longa lembrança. Ele foi até o mercado público e voltou, nos trazendo arroz, nos ajudando com as melhores intenções. Estávamos em frente ao Marco Zero e, usando do arroz para atrair as pombas para o lado oposto (pois apenas passar de bicicleta não bastava), conseguimos realizar aquela cena. Assim como a magia das bolhas de sabão surgindo e libertando-se com a ajuda da brisa daquela primavera, logo estaríamos prontos para ver o que aconteceria.

Finalizamos o filme em dois longos dias de edições; nem dormimos, tomávamos aquele café sem açúcar, nos mantendo acordados até o instante em que sentíssemos o dever cumprido. Nesse ritmo constante, caminhamos até o sol raiar. Tomamos um café da manhã, cochilamos por mais ou menos uma hora e depois aprontamos o pouco que faltava do filme.



Faltava ainda um bom tempo para o dia das premiações. Paralelo à isso, ajudei outros grupos, do 2º e até da minha própria turma, principalmente com problemas para salvarem seus filmes ou dos clássicos travamentos no Movie Maker. Um desses, inclusive, baseado em uma história de Monteiro Lobato, A Presidente Negra, tive de quase que refazer todo o projeto do Movie Maker no Vegas, onde até aproveitei para dar uma discreta melhoradinha nos caracteres dos créditos iniciais que passavam por cima de uma cena introdutória ao som de uma musica e voz sobreposta (ou voiceover). Quase ajudei durante as filmagens de "O Casamento de Emília" (do 2º ano também) mas, tristemente, não pude, ficando apenas com a edição. Tive um grande trabalho com esses vídeos de grupos que precisaram de alguma ajuda, voluntário, por sinal. Pareceu estranho para alguns eu não ter aproveitado disso financeiramente, porém, por aquele ser o meu último ano como aluno da escola, determinei que faria aquilo de coração. Era como parte de uma despedida, pois os momentos finais daquele ano intenso em breve chegariam, como o inesquecível retorno à conhecida Quinta da Estância, onde, acima de qualquer atividade, a atração principal foi o convívio puro, transbordando nos rostos uma alegria de criança - e uma tristeza subliminar. Começava a ver a importância de todos, como em uma grande orquestra sinfônica. Essa arte que me apaixona , tão humana e comportamental, só pode ser melhor explorada em um mundo de diversidade. E dentro dessa sala de montagem que se torna a nossa memória, assisti o filme do tempo e senti o tempo do filme. Onze anos de escola estavam passando.  Alcançamos o topo do monte. No último dia de aula, mais uma vez levei aquele mesmo relógio que comentei no primeiro post, ainda sem aquele vidro que fora quebrado. A última oportunidade para fazer isso, minuto a minuto, ia desaparecendo. Naquela aula chorei, sim, como nunca antes em toda a minha vida.

Em meio a um evento completamente decepcionante e mal planejado, conquistamos, mais uma vez, o Prêmio Santa Paula. Mesmo aquilo que era, para nós, tão importante - a exibição do filme - ter sido cortada, conseguimos, em dois anos, realizar tantas coisas, ter tantos momentos marcantes que dá para tranquilamente sorrir, rir e chorar de alegria. Por isso sinto que foi uma jornada plena, pois conseguimos ser mais do que alunos ou simples números em uma chamada, fizemos história, dentro daquele nosso mundo de 9km². É isso, foi isso, e vocês, professores, os meus colegas queridos, vocês foram demais, todos, os que estão aqui ou também distantes, até os mais chatos. Quero muito ver todos de novo. E, se isto for pedir demais, saibam ao menos que todos serão eternos e eternizados já estão, na minha mente, no meu coração, no frame e em cada pixel.


Foram nesses últimos quatro anos que consegui encontrar a arte que me completa. Talvez, estudando em outro lugar, tendo outros amigos e oportunidades, fosse diferente. Então nunca penso em mudar esse passado. Quero mais é que ele me acompanhe, me inspire, me emocione. Que viver seja sempre uma dádiva e, como sempre digo, cada instante seja o melhor de todas as nossas vidas até então.  

5 comentários:

  1. Como tu consegue escrever tanto?! Noooooossa!
    Mas olha tá muito tri...
    Lendo tudo isso bate uma saudade.
    Mas temos que ter como uma lembrança boa e bonita...certo?
    adorei teu blog!
    vou sempre comentar aqui...
    bjus

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  2. Obrigadoo Dai! Fico feliz que você gostou! Mas é isso aí mesmo, manter essa bela lembrança e o contato! =D

    bj

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  3. Fernando, seu avô era Dalton Nectoux e sua avó era Norbinda Lopes? Escreve! jorgetodeschini@hotmail.com

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